segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Vidas Aceleradas...



Nem sempre somos o que desejamos ser neste ritmo acelerado de vida moderna.
Ao núcleo familiar, impõem-se-nos vidas formatadas que têm de corresponder à sociedade que criámos. Da profissão, às amizades, da moda aos produtos de supermercado, tudo entra na pessoa de cada um. Nada nem ninguém fica de fora. Somos cabeças cheias quase a transbordar de imposições, de obrigações inalteráveis, de responsabilidades, de exigências e competitividade profissional. A este ritmo alucinante impõe-se-nos ainda um “pacote” por vezes improgramável.
São estes ritmos acelerados e com atitudes fortes que não nos permite desacelerar o suficiente quando é necessário.
Urge melhorar o sistema de travagem para não atropelar os que nos são preciosos.


Fotografia: Helder Ribeiro aqui

Com carinho
Mz

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Tonta...




 Tonta...

Tem dias que quero que me sintas tonta. E eu sou tonta quando quero e finjo acreditar. Sou mais tonta ainda porque me sinto poderosa. Poderosa ilusão por deter a tua “menos verdade”.  Para não desacreditar, finjo ser verdade o que de todo não o é. Passa a ser um segredo meu.
Tateias-me de mansinho, sentes que sei. Calamos um pouco as palavras e os risos deixam de ser tão rasgados. Espero por ti assim, numa poderosa ilusão. Espero-te calma. Observo-te. Avalio-te. Tu, continuas a tatear-me de mansinho porque as saudades do meu sorriso espontâneo e a graça do meu falar inquietam-te e rodeias-me incessantemente. Sem súplica, chega o momento certo e uma força invisível empurra-nos naturalmente um para o outro. Então depois, conversamos sem pressas e confessas consciente a tua “menos verdade”.






Linascheynius-Photography


Com carinho
Mz

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Chuva




 
Nesta tarde quase noite de céu acabrunhado
A chuva, meu amigo, cai desavergonhadamente.
Cai fria em rosto afogueado.
Acelera passos e emperra ossos velhos.
Prende a idade em casa e a casa é refúgio.
Os bichos enroscam-se em abrigos nesta tarde quase noite.
No cinzento do dia meu amigo, lá fora, a natureza molha-se.
A terra que já é lama, faz pesar mais cada passo.
Arrastam-se as botas gastas pelo campo
E os saltos finos, atrasam os encontros.
As ruas já são rios, nesta tarde quase noite!






Fotografia: Nuno Sampaio

Com carinho
Mz

sábado, 2 de outubro de 2010

Terra Flutuante...



Assim que poisei os pés naquela ilha, disseram-me que tinha de guardar pedras nos bolsos para não levantar voo.
Que os tremores daquele cálice de terra flutuante se confundiam com as aterragens e descolagens dos aviões...
Mar e céu, iriam confundir-se e comungar da mesma cor e, o horizonte seria sempre azul.
Chão semelhante a sapatos de defunto. Muita chuva a acentuar o cheiro químico libertado discretamente em fumos e fumarolas denunciando quão viva era esta terra.

Esperava-me chuva, vento, temperaturas amenas, muita humidade na minha pele. Alguma quietude e um genuíno medo camuflado por paisagens idílicas.
Sim...
O medo aparecia sempre que a chuva acentuava o fumegar tóxico do enxofre descendente das profundezas. Das profundezas que guardam o fogo ardente da lama incandescente. O cheiro do centro da terra que, aparentemente nos engana parecendo adormecida.
Nos primeiros dias, senti-me estonteada pela velocidade louca das nuvens.
Desisti de usar guarda-chuva, pois este voltava-se ao contrário a maior parte das vezes.

E foi quase sempre assim, debaixo de chuva miudinha que o vento me trouxe também o cheiro verde e tenrinho da erva abundante sempre renovada em rectângulos divididos por pedaços de lava.
Fusão de cheiros a terra e mar.
Mar farto e violento que galgava as escarpas negras mas que amansava junto das areias cinzentas da praia. De uma praia, onde a enseada permitia banhos mornos mesmo que a chuva teimasse em cair no Verão e de onde ninguém arredava pé, porque quando isso acontecia, todos esperávamos a visita de um arco-íris perfeito. E a chuva doce limpava-nos o sal do mar.

Recordo a Ilha dos 4 vulcões, a Ilha dos derrames de lava, dos Impérios e dos mistérios negros.
Lá onde o vento é pai de uma vegetação rara e rasteira e a Chuva é mãe da majestosa floresta rendilhada de cones quase perfeitos de criptomérias.
Lá onde a chuva tem outro encanto, os caminhos são bordados de azul e, o cheiro, é também pot-pourri de hortense.





Para:Fábrica de Letras 
Tema: "O Cheiro da Chuva"


Imagem Google:daqui





Com carinho
Mz