Começamos por abrir uma janela e olhar o mar. Sem
romantismos. Distraímo-nos com as marés cadenciadas, as construções dos molhes com
toneladas de pedra e os mastros cilíndricos das bandeiras. Vemos veleiros ancorados
que desafiam a física e vemos pessoas que caminham em passeios rectos ou curvos,
sentadas em esplanadas com mesas retangulares a saborear um vinho cheio de
complexidade de aromas. Assim, sem romantismos, tudo parece química e
matemática sem fim. Pegamos na máquina fotográfica e fotografamos este momento,
transformando-o numa imagem fixa. Uma fotografia estática. Mas nós queremos
mais do que isto. Deixamos a química e a matemática, guardamos a máquina
fotográfica, fechamos a janela e a porta de casa e descemos até ao mar. Assim,
sentamo-nos bem perto do mar, e num pensamento esperançoso, esventramos o seu
interior e descobrimos na magia, ainda mais magia. Divagamos e conspiramos,
especulamos os sonhos de um eterno recomeçar. Queremos a filosofia, queremos o
romantismo e a poesia para equilibrar a matéria exata. Contudo, o mar permanece igual.
mz
imagem do ilustrador Berkozturk (captivity)
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