sexta-feira, 29 de março de 2013

Cheiros de Páscoa numa Receita.


 
Regressaram os cheiros do alecrim no raminho benzido do domingo das palmas e da oliveira que este ano, trazem no atado de fita roxa um cacho de brotos, flor de azeitona que já não chega a ser.

É a semana dos cheiros da rapa maceira. Na gamela de madeira, a canela moura e o trigo já macio feito farinha; leve fina e branca. O amarelo das gemas e o açúcar refinado a envolvem-se numa chuva de limão em raspa. Intensifica assim o aroma que nos faz crescer água na boca e outros desejos. Os afrodisíacos. Estes, quando nos escorregam as mãos eroticamente besuntadas pela dourada e pura manteiga.
Com um rubor nas faces e uma dança de braços bem acertada, sova-se a massa com paixão e intensidade tal, até quase desfalecermos. Acarinha-se e aconchega-se em lugar quente esperando que cresça. Aqui já não há frenesim nem poesia, é química e o mistério da fermentação. Depois, é o cheiro a lume da madeira de pinho fogoso e abrasado no forno abobadado como só os sábios conseguem fazer. Os ovos e as tiras de massa a cruzarem-se nos folares, a alegria das lembranças de Páscoa, tudo misturado com o receio de os queimar de tanta saudade.


Mz


 
imagem:  A Pérolado Chaimite, Duque Ávila 38
fotografia do blogue Diário de Lisboa