Um destes dias espantei-me com um homem sentado no meio do
pequeno largo. Pessoas à sua volta como se fossem pombas a rondarem um pedaço
de pão. A música oriental, o tronco nu e a posição em flor de lótus, também me
seguraram os passos, e o jovem faquir na sua plataforma de pregos afiados prendeu-me
o olhar. A rua é um circo. E um julgamento muito rápido que me fez lembrar o que
hoje se faz para se ganhar uns trocos. Deveria ter dito - sobreviver, ou viver,
quiçá. Precipitei-me no meu julgamento, e reconheço o quanto sou muitas vezes
deliberadamente apressada no meu juízo. Na verdade, o espetáculo de rua e a
dignidade de quem o cria e executa, a sua criatividade e o treino, vão muito
para além do aventar de alguém. É a coragem da exposição. É atirarem-se para a
rua e, ao primeiro olhar, confundirem-se com a infelicidade que é miséria e não
arte.
Mz
Imagem: Tela de Armanda Passos, aqui
Pintora Portuguesa, expõe desde 1976
Pintora Portuguesa, expõe desde 1976
Olha que muitas vezes é arte pura aquilo a que se assiste na rua...
ResponderEliminarFiguras sem medo que a troco de umas migalhas se aventuram.
ResponderEliminarFico sem nada dentro de mim.
Um mundo de perguntas sem resposta esmaga-me completamente......
Pois, realmente nem toda a gente que se expõe na rua o faz apenas como último recurso, às vezes é uma escolha. E realmente a arte de rua é às vezes considerada como algo de menor...
ResponderEliminarGostei da imagem das pombas e do pedaço de pão...:-)
Sou muito reservada para me expor assim mas admiro a coragem de quem o faz. Hoje trabalhar na rua é uma opção que ajuda a fugir aos impostos e a publicitar dons. Uma opção a considerar para vencer o desemprego. Beijinhos
ResponderEliminarJoão, não duvido...
ResponderEliminarLuís, quando na rua se expõe a miséria em forma de mão estendida é a infelicidade da vida oriunda de fatores diversos.
ResponderEliminarDesvia-se o olhar ou atira-se uma moeda por piedade ou caridade.
Laura, na sociedade civil normalmente, tudo o que vem para a rua acarreta muitas vezes um estigma. Penso que Portugal em relação a outros países da Europa, é um país ainda um pouco provinciano neste aspeto.
ResponderEliminarMas estamos a melhorar, a aceitar e a valorizar muito mais este trabalho de rua em na maioria já está coordenado com as câmaras no âmbito da animação cultural.
Mary, fugir aos impostos é o prato do dia não é necessário vir para a rua.
ResponderEliminarMas também existem os pedintes de profissão, segundo dizem.
Agora ser um meio para combater o desemprego, isso é uma nova luta nos dias de hoje; fazer-se à vida quando todas as portas se fecham.
Bjnhs
Profunda a tua reflexão. Aqui temos muitos artistas na rua. A exposição para sobrevivência me dói.
ResponderEliminarBeijos
eu gosto das artes de rua,
ResponderEliminar-salvaguardando quem o faz por necessidade e porque já esgotou todas as hipóteses de trabalho -
lembro-me dos velhinhos Robertos pelas praias, em que o touro fartava-se da apanhar, dos saltimbancos, dos contorcionistas
e quando alguém toca um violino? a arte não pode estar fechada numa sala de concertos ou de exposições
agora quando toca a sobrevivência...calo-me, mas não deixa de ser arte
um abraço, Mz
Querida amiga
ResponderEliminarMuitas vezes
os que fazem
da vida a arte de rua,
entendem muito mais
de alegria,
do que nós...
A vida é feita
dos sonhos que nos habitam.
Carolina, dói a todos que sejam sensíveis.
ResponderEliminarBeijo
Manuela, também acho que a arte não deve ficar entre paredes. Todos ganhamos.
ResponderEliminarUm abraço!
Aluísio, por isso o meu julgamento deveria ter ido mais ao encontro desse artista alegre e que nos dá alegria.
ResponderEliminarE é bem simpático quando vamos na rua e nos deparamos com estes artistas. :)
ResponderEliminarOlá.
ResponderEliminarBelíssimo o seu blogue.
Estou lhe deixando um...
CONVITE
Passei por aqui lendo, e, em visita ao seu blog.
Eu também tenho um, só que muito simples.
Estou lhe convidando a visitar-me, e, se possível seguirmos juntos por eles, e, com eles. Sempre gostei de escrever, expor as minhas idéias e compartilhar com as pessoas, independente da classe Social, do Credo Religioso, da Opção Sexual, ou, da Etnia.
Para mim, o que vai interessar é o nosso intercâmbio de idéias, e, de pensamentos.
Estou lá, no meu Espaço Simplório, esperando por você.
E, eu, já estou Seguindo o seu blog.
Força, Paz, Amizade e Alegria
Para você, um abraço do Brasil.
www.josemariacosta.com
Luísa, é animador!
ResponderEliminarJosé Maria, obrigada e vamos lá seguir juntos o que temos para partilhar.
ResponderEliminarVisitá-lo-ei em breve.
Um abraço daqui de Portugal.
Mz
"Toca-me" mais um artista de rua que um pedinte de "profissão". Será insensibilidade minha?
ResponderEliminarTerá os seus motivos Rui!
ResponderEliminarSaz-me lembrar uma história que li há tempos, quando um famoso artista de música clássica foi tocar o seu instrumento musical para o metro de Londres e foi positivimante ignorado pelaquase totalidade das pessoas que passavam; ali perto, em Covent Garden, os artistas de rua, com o seu "folclore" tinham a sua multidão de turistas a aplaudi-los.
ResponderEliminarAs pessoas prendem-se mais ao popular ou insólito. Está visto.
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