Regressaram os cheiros do alecrim no raminho benzido do
domingo das palmas e da oliveira que este ano, trazem no atado de fita roxa um
cacho de brotos, flor de azeitona que já não chega a ser.
É a semana dos cheiros da rapa maceira. Na gamela de madeira,
a canela moura e o trigo já macio feito farinha; leve fina e branca. O amarelo
das gemas e o açúcar refinado a envolvem-se numa chuva de limão em raspa. Intensifica
assim o aroma que nos faz crescer água na boca e outros desejos. Os
afrodisíacos. Estes, quando nos escorregam as mãos eroticamente besuntadas pela
dourada e pura manteiga.
Com um rubor nas faces e uma dança de braços bem acertada, sova-se
a massa com paixão e intensidade tal, até quase desfalecermos. Acarinha-se e
aconchega-se em lugar quente esperando que cresça. Aqui já não há frenesim nem poesia, é química e o mistério da fermentação. Depois,
é o cheiro a lume da madeira de pinho fogoso e abrasado no forno abobadado como
só os sábios conseguem fazer. Os ovos e as tiras de massa a cruzarem-se nos
folares, a alegria das lembranças de Páscoa, tudo misturado com o receio de os queimar de
tanta saudade.