Tenho uma revista e um jornal que li o suficiente. Não me apetece olhar a paisagem vertiginosa e fugidia arrastando árvores e outras coisas. Sintonizei a música. É melhor que os outros ruídos. Cai-me o olhar quase adormecido para a mulher que se senta uns lugares à minha direita. Viajo.
A mulher da carruagem número um, classe conforto do Alfa Pendular, não deveria estar aqui.O seu perfil pertence algures ao passado. Enigmática. Pele branca bem cuidada, olhos enormes com pálpebras descaídas, sobrancelhas arqueadas pintadas de preto. Cabelo loiro curto e franja de ondas largas. Na boca vermelho forte, um sorriso repuxado permanentemente artificial. Uma expressão indefinida, sem se perceber se é natural ou do desenho da maquilhagem. Veste um fato calça e casaco cor de tabaco e uma blusa de seda marfim. Do pescoço flácido de pele rendilhada, cai-lhe um colar de pérolas básico. Mexe e escrevinha em folhas de uma pasta. De vez em quando, fuma uma cigarrilha electrónica de acordo com as regras desta época e nem por isso o sorriso se desmancha. Agora, um raio de sol ilumina-a e a pose é interessante.
Toda ela é um quadro vintage. Uma viagem no Expresso do Oriente num filme com Poirot tentado a desvendar o seu sorriso de Gioconda velha.
Para Fábrica de Letras
Tema: Rostos
Mz
Adorei essa visão da Senhora Vintage... :)Por vezes, é verdade que nos cruzamos com personagens que parecem saídos de uma outra era ou de um romance conhecido. E permanecem enigmáticas... como as suas vidas e histórias sobre as quais podemos apenas fantasiar :)Beijo
ResponderEliminarandante giocoso
ResponderEliminaro movimento do alfa pendular, da senhora da cigarrilha falsa, Poirot descobriria o enigma
eu gosto deste teu quadro!
um beijo
Eva G.
ResponderEliminarA viagem foi real e a mulher vintage também. A composição do texto tem um pouco de fantasia para dar aquele toque mágico de personagem misteriosa e claro... o Poirot e o sorriso enigmático de Gioconda.
Bjo ;)
Manuela B.
ResponderEliminareu não duvidava nada que ele desvendava de imediato o porquê daquele sorriso.
Um beijo!
Não terás interrompido alguma filmagem? Beijoca!
ResponderEliminarRafeiro P.
ResponderEliminara câmara parou quando eu entrei ;)
A imagem apresentada parece ter saído duma tela de Almada Negreiros...
ResponderEliminarUma viagem no tempo então
ResponderEliminarPor isso é que eu gosto de andar de comboio. Encontram-se personagens muito interessantes! :)
ResponderEliminarBravo amiga poeta,lindo! Em pontos de onibus ou dentro deles, sempre encontro Giocondas que adoro fantasiar...beijos
ResponderEliminarSomos aparições e mistérios.
ResponderEliminarCadinho RoCo
João R.
ResponderEliminarainda bem que falaste em Almada Negreiros... tenho de colocar aqui uma telas dele. Gosto bastante.
Bjs
Diário de um anjo,
ResponderEliminartoda a gente pode entrar... faz favor!
Teresa,
ResponderEliminartambém concordo!
:)
Neyde Arte A.
ResponderEliminare o que seria da vida sem um pouco de fantasia?
Beijos também para si :)
Cadinho Roco,
ResponderEliminarsomos sim. Aparecemos e logo saímos de cena a olhos anónimos.
Olá, Mz
ResponderEliminarPasso pra felicitar-lhe pelo período pascal... desejar-lhe que o melhor lhe seja concedido...
Abraços fraternos de paz e festivo
Se calhar era. Quem sabe! Há tanta coisa inexplicável. Adorei. Beijinhos
ResponderEliminarOrvalho do Céu,
ResponderEliminarretribuo os votos, obrigada.
Abraço também para si.
Brown Eyes,
ResponderEliminareu é que sempre sonhei com uma viagem no Espresso do Oriente que a minha versão foi lá parar ;)
Bjnhs
O comboio é efetivamente um ótimo lugar para observar o outro, tal como o autocarro, o café, e até um jardim... Gostei do quadro (digo da escrita)... :)
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