quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

2011...


Têm tocado sininhos aos nossos ouvidos. Não são sininhos dourados e angélicos com toque de paraíso que nos acalmam e relaxam, não! E, aqui apetece-me pôr o indicador em riste porque, os sons destes sininhos são agoirentos e tão estridentes que ameaçam rebentar-nos os tímpanos. Para além dos sininhos, rodopiam as sombras do rabudo belzebu num zunzum que nos inferniza a expectativa de um ano esperançoso. Não vale a pena ser explícita e falar do estado da Nação e de toda a conjectura internacional. Vós sois pessoas inteligentes!

Sou da opinião de que não devemos sofrer por antecipação, mas o número deste novo ano de 2011 remete-me para um imaginário de gigantescas sombras alongadas e soturnas com apêndices a rabearem como caudas peçonhentas. Cortamos um mal e logo se forma outro. É que não consigo ver este número onze de outra forma. Acho que a culpa é dos tais sininhos agoirentos de que falo lá em cima.

Quero espantar este rabudo Belzebu que me azucrina e me faz ter um pé no céu e outro no inferno. Quero entrar com o pé direito neste novo número apanhá-lo com unhas e dentes e acreditar que nem tudo vai ser tão duro.

A todos os que me lêem desejo um Bom Ano... e lutem com todas as armas!




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˚ ˛ •˛• | 田田|門| Um Feliz Ano 2011!




imagem daqui

Com carinho
Mz

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Natal...


De certa forma sou egoísta...
Para além de todos os conflitos sociais, económicos e políticos. Para além de toda a fome, frio e outro tipo de carências que existem no mundo. O que me toca de verdade são os mais próximos de mim. É Natal. Nascimento. Celebração. Aniversário. Jesus... dois mil e tal anos depois. Pouco me interessa se é a data correcta do nascimento. Faço o presépio, a árvore de Natal, recordo Jesus Menino e a história de um homem que existiu e que fez a diferença entre a humanidade. Acredito. Se não acreditasse, então colocaria toda a história da humanidade em causa. No meu País, colocaria em causa as conquistas de D. Afonso Henriques, ou a coragem da Padeira de Aljubarrota e por aí fora...

Hoje quero falar desta quadra que tanto encanta as crianças e que tem por tradição unir a família. Dizem que Natal é sempre que um homem quer. Dizem que Natal é stress. Dizem que Natal é consumismo. Enfim... dizem tanta coisa! Independentemente da religião, só as crianças são verdadeiras. Eu também fui criança e tento todos os anos reviver um bocadinho dessa magia que é o Natal. Acreditem que existem anos em que me esforço. E voltando ao início do texto, as pessoas que me tocam de verdade são as mais próximas de mim. Entristece-me saber das maleitas do mundo, mas entristece-me mais saber que tenho amigos que não estão bem neste momento de festa. Entristece-me saber que não poderei abraçar pessoas que estão longe ou outras que já não estão entre os vivos. Eu estou viva e quero festejar e partilhar palavras escritas ou faladas, mensagens electrónicas, objectos especiais, iguarias, brinquedos, música, livros, carinho, afecto. Partilhar com quem tem muito pouco e com quem tem mais um bocadinho. Causa-me alguma confusão a pessoa que grita de peito feito que não precisa de nada.Na sequência desta crise, não dão nem querem receber... tornam-se tão ridículas quando passaram o ano todo num consumismo desmesurado. Apenas as crianças se salvam!

Eu quero viver, quero partilhar e quero receber abraços, beijinhos, palavras, prendinhas e mimo!


Boas festas e Feliz Natal!




Galeria-Pintor Italiano (Alta Renascença) aqui 



Com carinho
Mz

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Sem Abrigo...



"Sem abrigo" em condomínio fechado...

Vive um onde moro.
Alguém o adoptou e reeducou a voltar a viver entre quatro paredes.
Alto, magro, pele macilenta. A barba é feita uma vez por semana. O rosto, quase sempre coberto pela sua farta cabeleira de caracóis negros que ondulam conforme o vento ou à mercê de movimentos bruscos.
As roupas são limpas, conquanto, nota-se que já pertenceram a outros. Por norma, as calças são curtas e os sapatos arrastam um ou dois números acima.
Não é jovem, mas também não é velho. É difícil definir a sua idade. Parece sofrer de alguma doença mental. Tem um relacionamento com um dos bancos do jardim, senta-se sempre no mesmo. Por vezes, escolhe ficar debaixo dele, outras vezes, deita-se à sombra de uma árvore, mas sempre bem pertinho do "seu" banco. O jardim recebe-o sem discriminação.

Nunca falei com ele.
Não sei o que lhe vai na alma, só sei o que vejo.
Naquele banco de jardim, ele cruza e descruza as pernas, esperneia, barafusta. Os seus braços gesticulam sem nexo.
A cabeça não pára e, em movimentos rápidos olha para um lado e para o outro, como se existisse algo a persegui-lo.
Todo o seu corpo balança em movimentos descoordenados.
Por vezes, esfrega a cara, leva a mão ao bolso e tira um cigarro. Fuma-o gulosamente dando a entender que talvez seja o último da sua vida.




Para Fábrica de Letras
Tema:Objectos, Pessoas, Sítios e Acontecimentos





Imagem: Google

Com carinho
Mz


sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Escrever...


Se um dia alguém escrever para ti com paixão partilhada,
Guarda essas palavras como um alfabeto de emoções.
Guarda as palavras do momento.
Guarda o papel se assim for...
Mesmo que aches ridículo anos depois,
Mesmo que já não te digam nada essas palavras...
Guarda-as, se um dia alguém escrever para ti.
Serão da tua história, do que tu foste, partilhaste e um dia também, sentiste.




Óleo sobre tela de Henrique Bernardelli aqui

 
Com carinho
Mz

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Uma Mulher...


Francelina apareceu não sabemos de onde.

De lugar em lugar, estacionou na minha aldeia e por lá continua a circular vai para cima de uma década. De rosto envelhecido e mãos mimosas, esta mulher lá vai vivendo como pode. Agarra-se ao trabalho quando o vício do vinho lhe dá folga. Leva para casa uns euros, alimentos da terra e os restos do almoço da patroa do dia. Apesar de desengonçada, olhos esbugalhados e de bafo a roçar destilarias, é mulher e tem desejos como outra qualquer. Quis Deus que a humanidade se desenvencilhasse com as suas próprias ferramentas por isso, nunca falta um testo para uma panela. Francelina arranjou um namorado. Trabalhador, mas igualmente viciado em copos de tinto rasca e outras bebidas ao nível da sua carteira.
Há um par de semanas, montaram na sua motorizada rumo a uma festa à distância de vinte km, mais coisa menos coisa, como tudo na vida destes dois. O divertimento secou-lhes a garganta, era tempo de dar trabalho ao fígado e alimentar a úlcera que se começava a manifestar. Emborcaram generosamente de tudo, era início do mês e a carteira ainda pesava. Se para lá foram sóbrios, na volta, o vício turvou-lhes a visão. Conscientes e porque têm amor à vida, regressaram devagarinho noite fora com a Zundapp a rasgar o silêncio. De olhos arregalados e chorosos do vento, encandeiam-se com as luzes e o verde reflector da brigada de trânsito. Francelina vê a vidinha a andar para trás e desata em prantos como uma Madalena arrependida. E, se o seu companheiro acusou álcool no sangue, ela superou-lhe o nível.

Com o veículo apreendido e sem dinheiro para pagar a multa, regressam a casa de rostos gelados mas de pés a ferver. Francelina, que não é mulher de baixar os braços, já passou por muito na vida, magicou a noite toda a engendrar quem lhes podia valer.
Com ardência na boca do estômago, e as fontes da cabeça a latejar, planta-se à porta de casa do Sr. Presidente da Junta da Freguesia. Com palavras lamentosas e semblante estoirado da noite, pede-lhe por todos os santinhos que os ajude e lhes pague a multa.

Ora, o Sr. Presidente da Junta, um rapaz muito bem-apessoado, licenciado em Relações Internacionais, de gostos caros e muita diplomacia, rapidamente resolve a situação. Paga a multa mas, em troca, os dois terão de fazer trabalho comunitário. Com vénias e agradecimentos excessivos, Francelina esfrega as mãos de contente. O facto de tamanha alegria já tinha àgua no bico, porque esta mulher não dorme para se safar! E, assim lá foram despachados para o cemitério com trabalho destinado até conseguirem repor a dívida. Inchada com a sua capacidade de resolução dos problemas, enquanto o companheiro se esfalfa a executar o que lhes foi atribuído fica ela a dar à matraca com quem se cruza por aqueles sítios, vangloriando-se da sua esperteza e rapidez de raciocínio.




Para Fábrica de Letras
Com o tema: “Uma Pessoa”

(o nome da personagem principal é fictício para preservar a identidade verdadeira)

Galeria Picasso aqui


Com carinho
Mz