terça-feira, 23 de novembro de 2010

Debaixo da língua...



Longe da terra estrumada e revirada. Longe das hortas, dos vasos de barro vermelho, dos hábitos simples e rotineiros da aldeia quedo-me nostálgica. Nostálgica e inquieta quando certos nomes ficam debaixo da língua e não saem quando quero. Da terra, as plantas e principalmente as flores.

E, se me lembro, eram, e ainda são tantas as variedades trocadas entre amigas e vizinhas que os jardins tornaram-se vaidosos e as donas orgulhosas. Anos de abundância em que as flores também têm um lugar de destaque na sociedade. As flores tornaram-se sinal de um tempo farto, de um tempo sem fronteiras e de crescimento económico. Foram anos esplendorosos de novidades num país esperançoso.
Longe estão os tempos em que havia uma Primavera só de malmequeres brancos e amarelos, de cravos e cravetas, das primeiras pétalas de rosa para as noivas de Maio e dos varões de S. José para as primeiras comunhões. No Verão, as hortenses, dálias, camélias, gladíolos, zínias e a estranhas flores de papel tão coloridas e de cheiro seco e indefinido.
Sempre as mesmas flores, sempre as mesmas sementes...
O Outono, com os velhos crisântemos da época, símbolo de saudade e ainda as últimas rosas à espera que o vento  as desfolhasse. E, pobre era o Inverno de cândidos e envergonhados jarros brancos escondendo as fálicas saliências amarelas. O antigo espargo entrelaçado e preso em redes especiais permaneciam mais verdes que em todas as estações. Do interior das casas, espreitavam às janelas vasos fartos de finas e rendilhadas avencas.
Era assim noutros tempos.
Sempre as mesmas flores, sempre as mesmas sementes, e destas eu não irei esquecer, nunca!



(imagem:google)


Com carinho
Mz

7 comentários:

  1. Gosto muito quando falas da tua vivência na aldeia! Dá-me logo vontade de me ir embora para saborear essas coisas todas!!!
    xx

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  2. Papoila;
    estou a esquecer-me do nome de algumas flores, principalmente as mais recentes inquilinas dos jardins com nomes estranhos como "astromélias"... etc... etc...
    Faz-me falta a conversa com a mãe e as tias.
    :)

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  3. Não há estações, ok. Deixaram de existir, mas, tal como nos legumes, agora encontras essas plantas durante todo o ano. Vivam as estufas!

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  4. Johnny;
    O nosso homem da agricultura...
    As estufas e as floristas, eu sei... mas não é a mesma coisa!
    Eu gosto de chegar ao pé de uma flor e saber os nomes. E estas mais recentes, ficam-me debaixo da língua e só me lembro das mais antigas, entendes?
    Ai que nervos!

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  5. AS mulheres e os seus 'nerves'

    pff

    P.S. - Esse "homem de agricultura" soa um bocado mal... let's ignore those references, please :)

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  6. Ai que nervos :)
    Tu é que disseste que eras do ramo (no meu post sobre a transparência)

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  7. Moving on, moving on... there's nothing to see here... moving on.

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Saber que alguém me lê, é bom.
Retribuirei a vossa visita com muito gosto.Obrigada