segunda-feira, 27 de julho de 2009

Imagino-me...




Nas horas vagas
imagino-me costureirinha...


Costureirinha de letras
formando palavras
em delicado papel de seda
Meus dedos ágeis
modelam vestidinhos de sonhos
na minha vida
Retalhos de dor são escondidos
e bordados a pontos de sombra
e pé de flor
Fios de vida
com nós no coração
desfazem-se em laços de esperança
Linhas e fantasias
vão atenuando tristezas
e os sorrisos ganham forma de
amores perfeitos

Com carinho
MZ

terça-feira, 21 de julho de 2009

Palavras



Esta noite, as palavras abafaram a vontade de um desejo
A minha boca foi uma arma silenciosa,
foi aço rosa enferrujado...
não disparou uma rajada

Esta noite, as palavras deitaram-se na minha almofada alva de cambraia
Não adormeceram...
Simplesmente se silenciaram
Abandonaram-me
Partiram de mãos dadas com uma lua de prata que espreitou a minha janela
Voaram entre o céu e o mar
e brilharam no azul-escuro do infinito

Quisera eu ser um anjo e resgatar as minhas palavras
Trazê-las de volta para a minha almofada alva de cambraia
Mas eu não sou anjo...
Aguardo à minha janela
e espero mergulhada na noite quente
que brinca com as sombras
e se refresca com os leques de uma palmeira que repousa no meu jardim.

Desejo eu agora,
que esta noite não seja eterna...
que as minhas palavras abandonem a prata da lua
e regressem abraçadas ao sol da próxima aurora.


imagem:google
com carinho
Mz

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Serena...


Consciente da minha respiração
e das sensações do corpo
escolho um espaço tranquilo
Gosto da praia quase deserta sobre a manhã
ou ao final do dia

Sento-me confortavelmente...
Os meus braços poisam relaxados sobre as minhas pernas cruzadas
com eles,
as mãos ajustam-se aos meus joelhos
Uno o polegar com o indicador
Semicerro os meus olhos
Endireito o tronco como um fio-de-prumo,
os ombros, levemente para trás expõem o meu peito

Assim...
Inicio uma respiração muito profunda
Inspiro e expiro deixando que todas as tensões e emoções do meu corpo
Se libertem a cada saída de ar

Imagino uma nuvem azul celeste
que permanece sobre a minha cabeça
A inspiração está comprometida...
A nuvem,
espalha-se por todo o meu corpo
e forma uma auréola do mesmo tom azul celeste
que em cada inspiração e expiração
me vai invadindo
Permaneço assim...
sempre consciente do meu corpo
Lentamente...
abro os meus olhos
Olho o mar
Tudo continua azul...
Deito o meu corpo na cama de areia,
Olho o céu
Tudo continua azul...

O azul acalma-me
e eu estou SERENA!

(imagem:google)



com carinho
MZ

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Predador


Invisível
Chegou
Maléfico e...
Predador!
Vai penetrar
Violentar
Saciar-se de vida...
Predador!
Não haverá palavras para atenuar a dor
Não haverá sol para aquecer o cinzento da pele
Porque chegou o mais mortal
Predador!
O tempo ficará estreito
As horas serão um sopro
O último segundo será o silêncio...
O sol, encerrado em caixa de ébano
deitar-se-á com o branco gelo do cetim
e fechado a código secreto
De ouro ou de prata quem pegará no brilho das suas asas?
Os dias serão trevas ou raios de sol?
Haverá dias?

Encerrar-se-á o sol,
Apagar-se-á o corpo
Mas ele continuará livre
Ele
é
O
Predador!




MZ



foto de: BdeC




sábado, 11 de julho de 2009

Sensações...




Sem corpo
Apenas palavras
e sensações...

Que fazer a palavras que são armas silenciosas
que te derrubam de dúvidas
mas que também te fazem explodir de sensações?

Que fazer a sorrisos e olhares?
Olhares que te despem...
Sorrisos sem rosto que se derretem lentamente
como um doce chocolate de leite
ou um outro negro de amargo cacau...

Que fazer?
Deixar sair as palavras espontaneamente?
Deixar que as sensações me conquistem
e me sussurrem que o corpo existe?

Então... se assim for,
deste jeito,
percorro o caminho completo dos sentidos

O sabor doce do leite
e o amargo cacau do chocolate
misturam-se sem pressas...
derretendo-se...
Suave como veludo
envolvem-se
e...
envolvem-me intensamente!

Rolam as minhas defesas
como tapete bordado a dúvidas
mas, os olhos que me despem,
elucidam-me
que são parte de um rosto com um sorriso único...

O CORPO EXISTE!
Não são
apenas palavras
e sensações...



com carinho
MZ

terça-feira, 7 de julho de 2009

Aldeia...


Sempre dividida deixo o meu mar...
Vou para a aldeia.
É altiva a aldeia que me viu nascer...

Nas suas encostas ainda se deitam videiras vestidas de parras recortadas que escondem cachos de uvas imaturas neste início de Julho.
Ao fundo, o vale em vários tons de verde convida-me a descer até ao rio...
e aquele estreito e esburacado caminho de pó calcado por pares de bois e gente calejada de antigamente, deu lugar a um piso liso mas duro e cinzento.
É uma descida acidentada de curvas acentuadas que os meus pés conhecem tão bem!

As cegonhas regressaram já há alguns anos e voltaram para ficar porque o rio, ora esperto, ora preguiçoso, permanece mais velho mas mantém as suas margens ainda férteis. Num voo rendilhado a preto e branco, planam suavemente sobre as marinhas de arroz agrupadas em rectângulos de terra alagada. Esperam que as espigas ainda verdes dos arrozais amadureçam.
Vou descendo e comigo descem os meus olhos...
Não resisto a um silvado de amoras negras que de tão maduras se desfazem na minha boca.
Choupais afilados, plantados em linha recta dão sombra a molhos de flores do campo.

Finalmente chego ao rio, debruço-me no varandim e vejo que os salgueiros-chorões continuam no mesmo lugar... os seus ramos curvam-se para roçar suave o doce tempero da água.
Uma bateira velha e esquecida agita-se silenciosa para poder escutar a fresca cantiga do rio na sua madeira carcomida pelo tempo.

Fecho os olhos ...
sei que nem tudo é como antigamente...

o ar está mais poluído, mas ainda vale a pena descer até ao rio.



Com carinho
MZ

quinta-feira, 2 de julho de 2009

O sonho




Esta noite, Morpheu veio ao meu encontro.
Espreitou o tule alvo do dossel,
contemplou o meu corpo adormecido
e deitou-se a meu lado...
Inebriado pelo cheiro a alfazema
impregnado no linho dos meus lençóis
penetrou suavemente o meu sono
e senti-o dentro de mim.

Numa realidade inconsciente,
metamorfose de um sono que se tornou sonho
aconteceu... uma viagem!

Milhares de estrelas-do-mar davam luz
a um oceano mudo de azul muito profundo.
Avistei montanhas e florestas de corais
recifes belos e coloridos,
jardins de anémonas,
cavalos marinhos,
palhaços do mar...
borboletas que eram peixes
e plantas que eram animais
Estranhas criaturas marinhas
pareciam saídas de um mundo que não era o meu
Cardumes de prata serpenteavam ao meu redor
e as estrelas-do-mar continuavam a iluminar o meu caminho.
Lá no fundo...
Castelos de areia encerravam baús vazios
outrora, vergados de tesouros magníficos.

Milhares de medusas abriram caminho para eu passar
e Neptuno vestiu-me de conchas,
enfeitou-me de pérolas raras,
prendeu-me o cabelo com fitas de algas e ganchos de madrepérola
e perfumou-me de maresia

Depois...
ofereceu-me as asas de uma jamanta
e eu demorei-me naquele vôo de regresso
deixando que a água do mar passasse por mim
e me lavasse de todas as jóias...
permanecendo só eu,
o meu corpo
e o meu sono sereno...




com carinho

MZ