quinta-feira, 18 de junho de 2020

Junho e Santo António.



Falámos de ti nas escadinhas do largo. Estavas como sempre com as flores aos pés, realçavam as alcachofras; grandes capítulos florais, fofos e lilases - que as moças da mordomia querem dar-te esses mimos. Tu, pequenino e tosco como te viram as mãos que te esculpiram, carregas o peso do calcário e das preces que te fazem. Lascado e quebrado de velhice, genuíno. Queremos-te assim, só importa a fé em ti para apaziguar os nossos medos; encontrar paz nesta espiritualidade. Estávamos então contigo, lá no largo num chão de erva-doce esmagado pelos passos que dávamos, distanciados e de máscaras no rosto. Não viste nos nossos lábios o sorriso triste que guardávamos, e nós não trouxemos para casa os perfumes de procissão.

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Cerejas e cadilhos de vida.



As cerejas deste ano comem-se em toalha de luto, eu sinto-lhe um vermelho negro na sua doce acidez. As cerejas deste ano, são arrecadas pesadas, pingentes retorcidos, rendilhados antigos com meneio de fado. Comem-se. Comem-se cerejas de boca cerrada enquanto se murmuram cadilhos de vida.