Texto e fotografia,mz
É noite e escrevo com o xaile às costas. É fofinho e
cinza rato, triangular e de franjas longas, por isso, digo sempre que é o meu
xaile de velha; um abraço quente de lã e conchas felpudas que a tia
carinhosamente tricotou. Eu e o xaile num aconchego de afectos sem nos
cansarmos de escrever o campo, o vale e os arrozais inundados. Porque o rio
transbordou, o som é vivo, a aragem fria. Um Março bipolar de tempo carrancudo
e, de riso quando o sol se ilumina. Abriram-se portas às Cegonhas que não falham
como promessa de Primavera, ainda que o tempo nos baralhe, a nós, somente a nós.
- Como se aguentarão as cegonhas lá no ninho tão alto e vento
tão forte? - Pergunto eu, tomando os animais como as pessoas.
- És uma tonta rapariga, subestimas a natureza na sua
adversidade! - Responde-me o xaile de velha, como se fosse gente, e, com as
conchas felpudas de lã a correrem para a noite.