quinta-feira, 15 de março de 2018

O regresso das Cegonhas.

Texto e fotografia,mz






É noite e escrevo com o xaile às costas. É fofinho e cinza rato, triangular e de franjas longas, por isso, digo sempre que é o meu xaile de velha; um abraço quente de lã e conchas felpudas que a tia carinhosamente tricotou. Eu e o xaile num aconchego de afectos sem nos cansarmos de escrever o campo, o vale e os arrozais inundados. Porque o rio transbordou, o som é vivo, a aragem fria. Um Março bipolar de tempo carrancudo e, de riso quando o sol se ilumina. Abriram-se portas às Cegonhas que não falham como promessa de Primavera, ainda que o tempo nos baralhe, a nós, somente a nós.
- Como se aguentarão as cegonhas lá no ninho tão alto e vento tão forte? - Pergunto eu, tomando os animais como as pessoas.
- És uma tonta rapariga, subestimas a natureza na sua adversidade! - Responde-me o xaile de velha, como se fosse gente, e, com as conchas felpudas de lã a correrem para a noite.