terça-feira, 28 de novembro de 2017

Água como diamantes.

 Texto e fotografia,Mz


E o brilho de hoje é outro, são estas gotas de água - diamantes.
Foi a chuva que veio sorrateira de madrugada namorar os telhados e as árvores. Um embalo apaziguador, um sussurro de serenata beijando o chão lá fora, um pedido de desculpa, a nós, que tanto suplicámos que caísse assim, fluída, libertina, num cantar também à desgarrada. Convidando à festa, à reconciliação, a um arredar da cortina para que tivéssemos a certeza que era ela, continuou num arrulho suave até ser manhã. E junta ao nevoeiro, ou num raio de claridade, acreditámos que não era apenas namoradeira; viera para casar, e fazer jus à estação. Ainda chove e já é noite. 

Portugal desde Setembro em seca severa e extrema, tem na chuva, a pedra preciosa mais valiosa que pode haver.




domingo, 26 de novembro de 2017

Outono vaidoso.



 Texto e fotografia,Mz



Já choveu, e no intervalo da chuva, este sol, esta cor de outono que mais iluminada não se pode achar. Deixa de fazer sentido o que já disse sobre o desengraçado Novembro que carrega a melancolia das coisas mortas, o enlameado da terra que se agarra às botas deixando um rasto caminho fora. Esquecemos as maçãs tardias que caem no chão, ficando por lá até apodrecerem como uma manta suja e bafienta a aquecer a terra. As pessoas da aldeia, dizem que a terra gosta desse aconchego e eu vou aprendendo estas coisas de sabedoria simples e despretensiosa. Arrumam-se as botas de campo no alpendre e sentamo-nos por aí a admirar o outono com uma sombrinha a resguardar-nos do sol.  Ficamos dias a ver um outono narciso a desfilar ao espelho como se fosse gente. Um outono afogueado com uma vaidade que nos sai muito cara, a nós, que precisamos de chuva.





sábado, 18 de novembro de 2017

Os cães e uma liberdade quase primitiva.

 
Texto e fotografia,Mz





Tem dias que se passeiam como se tudo fosse deles. Tomam conta da estrada, da terra, das coisas do homem. Sem perderem a afabilidade, ainda caçam roubando galinheiros de ferrolhos frágeis ou, de cancelas velhas a donos descuidados. São os cães. Principalmente os cães. Fotografei-os de manhã cedo com este sol dourado de Novembro, e depois, ao final da tarde, com o mesmo sol, contudo, quase morto. Ocorre-me que a brutalidade de ser comido por outros bichos, é um pensamento de uma bestialidade que nos fere a sensibilidade. Aqui na aldeia, é tudo mais bruto, mais bravo e transigente. Uma liberdade primitiva com a mais-valia de se poder dormir num telheiro quente até à noite, de trazer as patas sujas para o pátio de casa, e depois, receber afagos e mimos sem a repreensão dos donos.






terça-feira, 14 de novembro de 2017

Presa aos bichos.

Texto e fotografia,Mz



Estou presa aos bichos, ou melhor, fascinada com as poses, com as cores e, acima de tudo com os pormenores de que são feitos – a beleza do detalhe. Acautelei-me com o Sr. Carneiro e a sua esposa – Ovelha, que se deixaram fotografar, mas, sempre de olhar fixo e intimidativo. Os bichos domésticos às vezes são perigosos. Estão lá em baixo, naquele lugar de sol e sombra, naquela luz magnífica de outono, que já vos falei anteriormente, aqui . Lamentamos a falta de chuva que enquanto não chega, fruímos já do frio das manhãs e entardeceres. Tudo o que o sol faz emergir da terra, fumega como se cozinhasse a aldeia, por vezes, um vento que arrasta folhas e a calmaria da terra, pó molhado de orvalho. Depois, os alvoroços das aves de capoeira que parecem umas tontas, umas cabeças no ar cheias de nervos que ao mais pequeno barulho, movem-se impacientes levantando as asas, e, as penas que já se lhes desprenderam.