Quando se dorme na aldeia,
madrugamos sempre, ainda que possamos dormir pela manhã adentro. Eu madrugo,
porque os pássaros não me deixam dormir e, as tias também, porque a missa, é às
nove. Mas ontem, porque me quiseram mostrar os arrozais, abdicaram da rotina e
descemos a encosta, sem pressas. A última casa, na curva apertada, um estendal
de roupa estática à fina névoa matinal, sem vento, e ainda sem sol, a fazer
lembrar os dias em que a bruma está presa por um fio. No trilho do rio, a
poeira já levanta fina e opaca, a cada passada, as dores de artrose ficam
esquecidas e, das tias, já não há lamento. Entram numa espécie de encantamento,
ganham poderes com o cantar do rio esperto, o voo das cegonhas, os pântanos
cobertos de uma penugem de erva tenra e, depois, as espigas ainda verdes a
esconder o bago que será maduro, em breve. É uma espécie de feitiço quando
entram nos arrozais.
mz
fotografia
da minha autoria,
Mz