O ano passado fui contigo na procissão. O calor queimava-me
os braços e punha-me a cabeça tonta, em cada passo, não sei se me arrependia ou
se me encorajava. Todos os sapatos, grandes e pequeninos esmagavam erva-doce e
o cheiro que largava escalava-me as narinas e remexiam-me as memórias. Um pouco
do antes, na cadência e nas rezas e no cheiro, era a festa de outrora. No chão, também
o junco e alecrim, incenso e alfazema, preservam-se as ervas do campo meu santo
António que o resto se transformou. Generosas as casadas que te limparam e enfeitaram
e te fizeram a festa, emprestaram seus meninos para compor a procissão. Já não
há solteiras que te sirvam nesta aldeia. Por acaso não fazeis milagres?
mz
imagem: aguarela de João Barcelos