Da minha janela tenho um olhar inquieto para todos os
telhados que alcanço. A paisagem não me pertence de todo, nem tão pouco poderei
dizer que é uma paisagem espetacular. Fisicamente é apenas um ondular lusitano
que cobre a maior parte das casas de todos nós. Alegre e colorida quando faz
sol, melancólica quando chove e ausente de cor quando cai a lua. São olhares a
prazo e passageiros como a vida. São estados de graça também. E na fragilidade
do barro de que são feitos todos estes telhados e todas as inquietudes guardadas
em cada olhar, o contraste com a grandiosa força do planeta. O movimento. O tempo que arrasta o
homem com todos os seus humores e atitudes. Uma espécie de presente. Um
ano novo por ano, todos os anos.
mz
Imagem: tela de Maluda, Lisboa 1988