Não fosse o chão de terra batida e ainda molhada do exagero
chuvoso dos dias, diria que estavam confortáveis. São cães velhos que se
encostam aos muros dos caminhos sem passeios de estradas. Aparentam a juventude
ou a velhice dos donos, e aconchegando-se ao sol, parecem imitar-lhes os
hábitos. Lembra-me que todos queremos calor quando os dias são frios e nessa demanda
vão os homens e os animais à procura do melhor lugar e do que lhes faz bem ao
corpo e à alma. Um dia, era noite e escrevi um poema ao meu cão. Já o fiz a
pessoas e à morte, ao vento e a outras coisas voláteis e invisíveis. Pode ser extravagante
escrever um poema a um cão quando já tão poucos o fazem aos seus amores. Senti-me
bem. Foi como se o sol me sorrisse e me aquecesse. Nada me pode comprometer com
o ridículo porque o meu cão não é apenas um ser sem alma como dizem dos animais;
oferta-me um dom que me congraça com a vida.
Poema ao meu cão aqui
mz
imagem: tela homas Eakings (1884-1916)