Se não fosse homem, digo que seria gaivota. Não teria pés,
nem teria de contar euros para comprar botas no inverno. Estou certo que muito
me agradariam as palmuras dos pés para calcar o mar e poder correr sobre as
águas. Sem milagres. Andar lá, apenas porque o poderia fazer. Assim, de um modo atabalhoado, agitando asas e salpicando tudo mar afora.
Se não fosse homem, volto a repetir;
seria gaivota, e a par do impressionante caminhante aquático, o VOO SUPREMO. O abrir de asas e o silêncio do vento arrepiando desejos. Voar mais e mais até
me doerem aqueles ossos ocos de ave frágil.
No meu corpo de homem, um rasgo de cinza para acompanhar a cor de fundo,
que no fundo do meu ser, teimo em dizer que todos temos um pouco deste tom de
lua sem brilho e sonhos de ser muitas vezes, o impossível.
Mz
Fotografia: Terreiro do Paço
Do blogue de fotografia Diário de Lisboa