terça-feira, 16 de outubro de 2012

Durante o sono.


O tempo parou com um tiro seco de rolha. Um estalo de línguas saboreando qualquer coisa boa. Um copo de espumante gelado. Presumo. Seria bom se todas as refrescantes bolhas de ar não se convertessem em espinhos na minha goela. O sono não devia ter pesadelos. Mas, salta-se de um para outro. O sono não me dá tréguas. A pele transpirada e o coração a bater fora do normal, lembro-me vagamente de minha mãe que tem angina de peito e ainda não sabe. Não posso esquecer-me de lhe dizer.
Ninguém me acorda e eu, com o coração nas mãos e bolhas de suor por todo o corpo. Preciso que me expliquem os carros amolgados e ferrugentos amontoados na praça. As lojas fechadas, as portas trancadas e as janelas sem sombras de gente. Não entendo para onde foram todas as pessoas. Eu estou ali apenas comigo e mais ninguém.


Mz



imagem: Tela Georges Braque
Large Nude 1908 AQUI