Já fui criança e já fui mãe. Muitas histórias infantis leram
os meus olhos e foram ditadas pela minha voz. Repetidamente.
- Era uma vez uma princesa...
- Era uma vez um rei...
Histórias na perfeição de um modelo ilusório com personagens
belas, más e feias à mistura a encaixarem numa magia que se quer ingenuamente
perfeita. Adormecem-se as crianças formatadas neste sonho. Pela manhã, todas as
meninas querem ser princesas e todos os meninos querem uma espada. E vão sonhando e
brincando com reinos perfeitos. Depois, é um crescer natural e um despertar
óbvio para a vida. E chega o dia que se quebra o encanto. Continuam os reis e
as princesas numa outra realidade. Num desfile de vaidades apresentam-se
realidades e factos. A perfeição é uma fachada de histórias e escândalos abafados.
Actos contínuos de acções interditas e casos obscuros. Mentiras e festas
sumptuosas. Gaste-se e encante-se com protocolos inúteis. Ainda assim, as
mulheres republicanas e cientes da realidade continuam a sonhar com príncipes
perfeitos e, os reis a sonhar com plebeias generosas. Como a imperfeição é ávida de ilusões...
Imagem: desenho de Almada Negreiros
Escrito para Fábrica de Letras
Tema: Perfeição
Original escrito e publicado...
Mz