Quando estou carente de mãe, faço um tacho de arroz doce. O processo é simples e alivia a distância. Sempre que nos lembramos de nós, a voz ao telefone não chega, nem as palavras amigas que ela me diz ao ouvido. Faltam-me os cheiros da cozinha, os movimentos de tradição e aprendizagem entre nós as duas. Então, por vezes, dá-me a vontade de um arroz doce capaz de nos aproximar assim de uma forma saborosa. Não é gula, mas mimo que existe neste fazer secreto. Eu e a lembrança das mãos que pesam a doçura e o aroma. Tudo sem peso e medida, apenas o que baste ou ainda mais um pouco, como os afectos devem de ser. Um encosto maternal num simples prato, é um embalo de colo com aroma a canela e limão que só eu sei como aconchega. Tudo o que está longe fica muito mais perto. E, a seguir à minha mãe e ao arroz doce, aparecem-me todas as minhas tias e todos os meus primos ainda pequenos a entrarem e a saírem da cozinha. Brincadeiras, choros e berros. Lembranças... Boas lembranças que tenho das minhas tias, cada uma com as suas habilidades, todas elas mulheres de cozinha e tradição.
E pronto...
Mãe, eu tenho a tua mão e o teu cheiro neste prato de arroz doce. Estás comigo, vamos comer.
Mãe, eu tenho a tua mão e o teu cheiro neste prato de arroz doce. Estás comigo, vamos comer.
Fotografia: Diário de Lisboa
The Lisbon Diary blogue, aqui
Mz