Tecida de grãos que cobrem os falecidos, é a manta cor de terra, se ainda houver cadáver.Não há sol. Não há chama tremeluzente que aqueça os corpos, nem as almas neste sempre místico dia dos mortos.
Como se estivessem encostadas aos muros brancos, colam-se as sombras das mulheres vestidas de escuro. Mulheres doídas. Mulheres de coração negro como as sombras da parede branca. São rectas paralelas as sombras e os corpos vivos e os que já se foram, porque jamais se encontrarão. O infinito passa-lhes ao lado de invernosos pensamentos. O tempo mistura-se em cada folha que se junta a um turbilhão de mil folhas caducas enrolando-se em espirais que se atropelam com imagens de quem já se foi. O vento e a chuva, se aparecem, aumentam ainda mais as perdas e, no rosto das mulheres vestidas de escuro, vincam-se mais e mais as rugas da tristeza.
E volto às sombras do muro branco que também eclipsam a cor das flores que as mulheres levam aos seus homens frios. Volto a esse muro de paredes brancas e às mulheres que o olham, tornando-os em espelhos baços escondendo realidades de noites inquietas, solitárias e mal dormidas.
imagem: pesquisa Google
(estátuas em cemitérios)
Com carinho
Mz