Na capela, lá no largo da aldeia, cumprimentam-se com beijinhos as raparigas. Falam de mim e de flores. Já não cheiram a feno nem a alfazema, os perfumes de hoje, são outros, sofisticados... Mas voltam, voltam sempre, solteiras mas não virgens até aposto! Perdoa-me Deus que o amor e o calor dos corpos é mais importante que a virgindade que o homem inventou e, o pecado, é outra coisa. A capela é delas, de todas as mulheres, de todos os sorrisos, inocentes ou picantes, solteiras ou casadas, novas ou velhas. A Capela é desta terra que em mim acredita e respeita. É dos rapazes de todas as idades, do pagão e do religioso. É dos que suportam o meu peso nas costas. Não me incomodam as procissões nem o lustro dado pelas raparigas, mesmo corado e empoleirado no andor. Gosto de arejar, gosto das colchas nas janelas e da banda a compasso. Sou António e sou do mundo. Fizeram-me Santo. Prolongam-me também por aqui e aqui estou, esculpido nos corações e no calcário coimbrão do séc. XV. Aqui sou tosco pesado e muito antigo. O homem escolhe como me quer ver... mesmo que só alguns me sintam. Quem de mim escreve, que escreva livre e solte o pensamento. Assim continuo vivo.
Fotografia: Jfifas
Com carinho
Mz